Sergio Cruz Lima

Precisa-se de uma Excelência Reverendíssima!

Por Sergio Cruz Lima
[email protected]
A presença de um bispo católico na comunidade é sinal de prestígio da Igreja. Por isso, desde os preâmbulos do século 19, já se pleiteava a criação da diocese de Santa Catarina. Em fevereiro de 1900, dom José de Camargo Barros, bispo de Curitiba, em carta ao monsenhor Francisco Topp, vigário de Florianópolis, insiste que "é tempo de cuidar-se da criação do bispado de Santa Catarina". O próprio bispo designa uma comissão, composta por quatro "distintos cavalheiros", entre os quais Hercílio Luz, com o objetivo de preparar o processo para enviá-lo ao Vaticano. E uma das principais peças processuais é a comprovação de existência de um patrimônio não menor de cem contos de réis.

Em janeiro de 1906, o Papa Pio X recebe o pedido de criação da diocese catarinense. Dois anos correm. Em 19 de março de 1908, pela Bula Quum Sanctissimus Dominus Noster, o desejo é atendido. A Matriz de Nossa Senhora do Desterro é elevada a catedral. Agora falta a designação de um bispo. O jornal "Gazeta Catarinense" estampa uma manchete: "Precisa-se de uma Excelência Reverendíssima!"

Inexperientes nas questões administrativas e hierárquicas da Igreja Católica, as forças políticas catarinenses decidem interferir junto ao Vaticano para que a nomeação da nova autoridade eclesiástica caia nas mãos de um padre catarinense. Ou, pelo menos, que seja um brasileiro. Para tanto, o governador Gustavo Richard chega a entregar ao cardeal Arcoverde, bispo do Rio de Janeiro, uma listagem com o nome de quatro padres catarinenses. "Qualquer um deles", escreve o governador em sua missiva, "seria aceito sem nenhuma restrição pelo mundo católico de Santa Catarina".

Não deu outra. O Vaticano simplesmente ignora a petição de cunho político do governador e nomeia, bispo de Florianópolis, o padre João Becker, que exercia atividades religiosas na catedral de Porto Alegre. Nascido na Alemanha, na localidade de São Wendelino, em 1870, o padre João Becker, com dois anos de idade veio com os pais para o Brasil, instalando-se na Colônia Harmonia, em Caí, no Rio Grande do Sul.

"A Gazeta Catarinense", jornal de Hercílio Luz, garante que o governador Gustavo Richard andou manifestando interesse em tentar anular o decreto pontifício. Claro que, para o jornal, Hercílio, opositor político de Richard, está de pleno acordo com a decisão papal. E, com muitas pompas, muitas festas e muita alegria, Dom João Becker toma posse em 12 de outubro de 1908. Sua primeira carta pastoral tem por título pascam in judicio. Ou, "apascentarei com justiça".

Dom João Becker morreu aos 76 anos de idade, em 1946, na capital gaúcha. À época, era arcebispo de Porto Alegre.​

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Pavlov e o jogo intrincado da vida

Próximo

The Chosen Os Escolhidos

Deixe seu comentário